sexta-feira, 19 de julho de 2013

A IMAGEM DO PARLAMENTO BRASILEIRO




A imagem que o Parlamento tenta passar para a sociedade é de que é a “Casa do povo”, numa associação à igreja enquanto “Casa de Deus”, como se todos os que ali estão fossem santos. Os parlamentares seriam os representantes do povo, no caso da Igreja, os representantes de Deus. Só que tanto na Igreja, quanto no parlamento, a instituição é formada por gente. E o resultado está aí, as duas instituições nunca estiveram tão desacreditadas pela população. E olha que no caso da Igreja, os seus representantes são devidamente formados para exercerem suas funções.
Bem, o que queremos dizer é que a imagem do parlamento enquanto “Casa do Povo” e os parlamentares, enquanto representantes do povo, na prática é discutível. A “Casa do Povo” não se compara com a maioria das residências brasileiras e também não abriga as centenas de pessoas sem-teto, muito menos os moradores de rua que dormem ao seu entorno, no relento. Esta casa parece pertencer a uma minoria que usa terno e gravata, parecidos com altos executivos e diplomatas. Por aí percebemos, o quanto esta instituição está distante da realidade brasileira.
Hoje a imagem que esta instituição transparece é a imagem da corrupção, do paternalismo, do nepotismo, da impunidade, enfim. São marcas que, ao longo dos anos, vem sendo ratificadas pelos grandes escândalos políticos. E com isso, a descrença da população para com esta instituição só aumenta. A verdade é que a sociedade brasileira não se sente representada pela maioria dos parlamentares, porque não enxerga ali os seus anseios sendo discutidos. É comum observarmos os debates ferrenhos entre os diversos grupos de interesse nos plenários legislativos. Seria tão bom se esses interesses fossem aqueles do povo, da coletividade, aquele interesse que sustenta a democracia e justifica a república.
E aí, ainda questionamos sobre a legalidade de um palhaço “semi-analfabeto” de sentar numa das cadeiras da “Casa do Povo”. Como se ele fosse desqualificado para usar terno e gravata. Muitos críticos acharam que este fato afrontaria a democracia brasileira e que isso era uma vergonha nacional. Mas que democracia é esta onde um analfabeto não pode ser votado, mas pode eleger um “doutor”. E este “doutor” não reclama do voto que teve de um analfabeto. Sem contar que grande parte dos eleitores brasileiros está nesta condição. Não estou defendendo a ideia de que os nossos parlamentares sejam analfabetos. Eu acredito que o ideal é que toda a população brasileira fosse portadora de Ensino Superior. Isso, com certeza, tornaria a nossa democracia mais efetiva ou não. Só estou querendo dizer que não adianta eleger uma meia dúzia de “doutores”, com uma oratória impecável, por achar que estes terão mais compromisso com o povo. Aliás, o que os “filhinhos de papai”, que foram se instruir lá fora nas melhores universidades, estão fazendo pelo povo brasileiro nos parlamentos? Aqui no Estado do Amapá temos uma hereditariedade política assustadora. Famílias se perpetuam no poder através dos filhos. E isso não tem tendência a acabar tão cedo, justamente porque esses grupos familiares constroem e mantém, em pleno século XXI, seus “currais eleitorais” e se aproveitam da “inocência” de famílias pobres para comprar-lhes o voto.
Portanto, votar no Tiririca talvez represente uma grande investida do povo paulista para acabar com essa hereditariedade de poder entre os grupos de políticos tradicionais e quem sabe, ter um retorno positivo de seu voto. Eu particularmente considero a eleição do Tiririca, um dos mais belos exemplos de cidadania, pois não acredito que ele tinha tanto dinheiro para comprar tantos eleitores.
Para finalizar, gostaria de deixar uma problemática para reflexão. Outro dia escutei muita gente criticando a quantidade de bacharéis em Direito inscritos em um concurso público para o cargo de gari. Fiquei pensando: seria tão bom se todos os nossos garis tivessem Ensino Superior. Talvez, assim, não seriam submetidos a condições desumanas de trabalho e nem teriam uma faixa na testa dizendo: “Eu sou gari porque não estudei”. Desculpem os excessos, na verdade este texto é mais um desabafo pessoal.

Por Paulino Barbosa

Texto apresentado ao Programa Missão Pedagógica da Câmara dos Deputados - Brasília/DF