Meio de transporte motorizado e prático substitui as montarias à remo no Bailique
Ribeirinho em sua rabeta deslocando-se pelos rios do Arquipélago do Bailique |
Há dois anos atrás quando aportávamos no arquipélago do Bailique, distante 185 km de Macapá, além da beleza natural, encontrávamos dezenas de ribeirinhos em suas montarias, cujos remos adentrando as águas morenas nem sempre calmas dos rios, ajudavam aquele povo a se deslocar de um lugar para o outro numa perfeita harmonia com a natureza que mais parecia o movimento de ir e vir das marés.
Como um simples e milenar meio de transporte de origem indígena, as montarias movidas a remo mais pareciam parte integrante daquela majestosa paisagem natural. Sem a poluição sonora e ambiental causada pelos motores movidos a combustível, esses transportes são considerados um modelo corretamente ecológico para uma região, cujo ambiente natural ainda não sofreu tamanha intervenção humana.
Acontece que nos dois últimos anos, as montarias à remo, como num processo de extinção, vem desaparecendo gradativamente da paisagem bailiquiense. E o motivo é bastante conhecido. Com a implantação do projeto de Assentamento Rural do Governo Federal, coordenado pelo INCRA-AP, na região do Bailique; a população recebeu uma linha de financiamento para aquisição de materiais e alimentos fornecidos diretamente pelas lojas credenciadas ao projeto. Como as rabetas faziam parte da lista de materiais disponibilizados aos assentados, houve um número impressionante de aquisições desses motores por parte da população bailiquiese, cujo principal meio de transporte é o marítimo em razão da quantidade de rios que cercam a região.
Atualmente, praticamente todas as famílias possuem uma rabeta ancorada no porto de suas casas. Com esse novo meio de transporte, o deslocamento ficou mais rápido e prático, já que qualquer pessoa adulta, e até crianças, conseguem operar seus motores – relata uma proprietária. Só que tal praticidade e mobilidade poderão causar sérios problemas ambientais à região, além de quebrar o silêncio que antes era exclusividade da sinfonia das florestas.
Hoje, ao aportarmos na região do Bailique, nosso barco é cercado por rabetas de todos os tamanhos e modelos, mostrando que além de transporte pessoal, as rabetas também são usadas na atividade comercial com o transporte de passageiros e de mercadorias.
De qualquer forma, mesmo que o aparecimento das rabetas releguem às montarias o papel de peça de museu e provoquem um desequilíbrio ambiental, nada mais são do que o reflexo de que a modernidade está chegando também àquela região. E, da mesma forma como o Bailique é cercado de água por todos os lados, está também cercado de rabetas por todos os cantos.