quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

INVASÃO DAS RABETAS


Meio de transporte motorizado e prático substitui as montarias à remo no Bailique
Ribeirinho em sua rabeta deslocando-se pelos rios do Arquipélago do Bailique
Há dois anos atrás quando aportávamos no arquipélago do Bailique, distante 185 km de Macapá, além da beleza natural, encontrávamos dezenas de ribeirinhos em suas montarias, cujos remos adentrando as águas morenas nem sempre calmas dos rios, ajudavam aquele povo a se deslocar de um lugar para o outro numa perfeita harmonia com a natureza que mais parecia o movimento de ir e vir das marés.
Como um simples e milenar meio de transporte de origem indígena, as montarias movidas a remo mais pareciam parte integrante daquela majestosa paisagem natural. Sem a poluição sonora e ambiental causada pelos motores movidos a combustível, esses transportes são considerados um modelo corretamente ecológico para uma região, cujo ambiente natural ainda não sofreu tamanha intervenção humana.
Acontece que nos dois últimos anos, as montarias à remo, como num processo de extinção, vem desaparecendo gradativamente da paisagem bailiquiense. E o motivo é bastante conhecido. Com a implantação do projeto de Assentamento Rural do Governo Federal, coordenado pelo INCRA-AP, na região do Bailique; a população recebeu uma linha de financiamento para aquisição de materiais e alimentos fornecidos diretamente pelas lojas credenciadas ao projeto. Como as rabetas faziam parte da lista de materiais disponibilizados aos assentados, houve um número impressionante de aquisições desses motores por parte da população bailiquiese, cujo principal meio de transporte é o marítimo em razão da quantidade de rios que cercam a região.
Atualmente, praticamente todas as famílias possuem uma rabeta ancorada no porto de suas casas. Com esse novo meio de transporte, o deslocamento ficou mais rápido e prático, já que qualquer pessoa adulta, e até crianças, conseguem operar seus motores – relata uma proprietária. Só que tal praticidade e mobilidade poderão causar sérios problemas ambientais à região, além de quebrar o silêncio que antes era exclusividade da sinfonia das florestas.
Hoje, ao aportarmos na região do Bailique, nosso barco é cercado por rabetas de todos os tamanhos e modelos, mostrando que além de transporte pessoal, as rabetas também são usadas na atividade comercial com o transporte de passageiros e de mercadorias.
De qualquer forma, mesmo que o aparecimento das rabetas releguem às montarias o papel de peça de museu e provoquem um desequilíbrio ambiental, nada mais são do que o reflexo de que a modernidade está chegando também àquela região. E, da mesma forma como o Bailique é cercado de água por todos os lados, está também cercado de rabetas por todos os cantos.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

DESPERDÍCIO DE RECURSO PÚBLICO


 Obra que deveria ser símbolo do ecoturismo e geração de recursos acaba-se em ruínas


Vista frontal do Hotel Bosque construído às margens do Rio Marinheiro no Arquipélago do Bailique
Fotos: Fabrício Barbosa
Fotos: Fabrício Barbosa

H
otel Bosque, construído em 2002 pelo Governo do Estado do Amapá, no Arquipélago do Bailique para divulgar o eco-turismo, fomentar a economia e valorizar a cultura regional encontra-se em total estado de abandono e deteriorização, sem nunca ter realmente funcionado.
Construído em uma área de 3.000 m² de floresta, o Hotel Bosque integra um arrojado projeto sócio-ambiental e turístico implantado pelo Ex-governador João Alberto Capiberibe no Arquipélago do Bailique, que ainda conta com uma Escola Bosque. O objetivo era despertar a consciência da população local para a preservação ambiental e o uso dos recursos naturais de forma sustentável.
A construção do Hotel Bosque levou cerca de um ano e meio para ficar pronta. O valor da obra foi estimado em 1,3 milhões de reais e foi custeado com recurso público provindo do Governo Estadual e do Ministério do Meio Ambiente, através do Programa para o Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia Legal - Proecotur.
Imagem dos apartamentos construídos no meio da floresta
 Construído com mão-de-obra e matéria-prima local, sua arquitetura foi projetada e adaptada às condições regionais. Com estilo palafita, feito em madeira e telhados de palha, o objetivo era oferecer conforto e beleza atrelada à sintonia com a floresta e os seus habitantes.
O projeto pretendia empregar dezenas de pessoas da própria localidade que seriam formadas pela Escola Bosque e depois receberiam treinamento especializado para cuidar da administração e manutenção do empreendimento, bem como, divulgar o potencial turístico e cultural da região.

Inaugurado em 2002, pelo então Governador João Capiberibe, ainda sem todos os equipamentos de funcionamento, o projeto não teve continuidade pelos governos posteriores. Apenas vigiado e conservado por empregados da empresa de vigilância Pointer, contratada pelo Departamento de Turismo do Estado, o hotel serviu para alojamento de alguns turistas, professores da escola Bosque e para a realização de alguns eventos públicos.
Em 2004, através de uma escusa e polêmica concessão, o hotel foi cedido a Cooperativa de Negócios e Consultoria Turística - Conectur, presidida por Wladimir Furtado, que não efetuou nenhuma revitalização no espaço e nem tampouco iniciou o funcionamento do hotel.
Com o fim do contrato da Pointer com o Governo do Estado, as instalações ficaram totalmente abandonadas e mais vulneráveis ainda à ação do tempo e de saqueadores. Atualmente, o hotel que custou milhões de reais, provenientes do bolso da própria população, e que deveria atrair recursos para a população local e contribuir para o desenvolvimento do Arquipélago do Bailique, encontra-se em ruínas e servindo apenas para alojamento de animais silvestres e ações de vândalos.     
Vista do trapiche construído às margens do Rio Marinheiro