A imagem que o Parlamento
tenta passar para a sociedade é de que é a “Casa do povo”, numa associação à
igreja enquanto “Casa de Deus”, como se todos os que ali estão fossem santos.
Os parlamentares seriam os representantes do povo, no caso da Igreja, os representantes
de Deus. Só que tanto na Igreja, quanto no parlamento, a instituição é formada
por gente. E o resultado está aí, as duas instituições nunca estiveram tão
desacreditadas pela população. E olha que no caso da Igreja, os seus
representantes são devidamente formados para exercerem suas funções.
Bem, o que queremos dizer é que
a imagem do parlamento enquanto “Casa do Povo” e os parlamentares, enquanto
representantes do povo, na prática é discutível. A “Casa do Povo” não se
compara com a maioria das residências brasileiras e também não abriga as
centenas de pessoas sem-teto, muito menos os moradores de rua que dormem ao seu
entorno, no relento. Esta casa parece pertencer a uma minoria que usa terno e
gravata, parecidos com altos executivos e diplomatas. Por aí percebemos, o
quanto esta instituição está distante da realidade brasileira.
Hoje a imagem que esta
instituição transparece é a imagem da corrupção, do paternalismo, do nepotismo,
da impunidade, enfim. São marcas que, ao longo dos anos, vem sendo ratificadas
pelos grandes escândalos políticos. E com isso, a descrença da população para
com esta instituição só aumenta. A verdade é que a sociedade brasileira não se
sente representada pela maioria dos parlamentares, porque não enxerga ali os
seus anseios sendo discutidos. É comum observarmos os debates ferrenhos entre
os diversos grupos de interesse nos plenários legislativos. Seria tão bom se
esses interesses fossem aqueles do povo, da coletividade, aquele interesse que
sustenta a democracia e justifica a república.
E aí, ainda questionamos
sobre a legalidade de um palhaço “semi-analfabeto” de sentar numa das cadeiras
da “Casa do Povo”. Como se ele fosse desqualificado para usar terno e gravata.
Muitos críticos acharam que este fato afrontaria a democracia brasileira e que
isso era uma vergonha nacional. Mas que democracia é esta onde um analfabeto
não pode ser votado, mas pode eleger um “doutor”. E este “doutor” não reclama
do voto que teve de um analfabeto. Sem contar que grande parte dos eleitores brasileiros
está nesta condição. Não estou defendendo a ideia de que os nossos
parlamentares sejam analfabetos. Eu acredito que o ideal é que toda a população
brasileira fosse portadora de Ensino Superior. Isso, com certeza, tornaria a
nossa democracia mais efetiva ou não. Só estou querendo dizer que não adianta
eleger uma meia dúzia de “doutores”, com uma oratória impecável, por achar que
estes terão mais compromisso com o povo. Aliás, o que os “filhinhos de papai”,
que foram se instruir lá fora nas melhores universidades, estão fazendo pelo
povo brasileiro nos parlamentos? Aqui no Estado do Amapá temos uma
hereditariedade política assustadora. Famílias se perpetuam no poder através
dos filhos. E isso não tem tendência a acabar tão cedo, justamente porque esses
grupos familiares constroem e mantém, em pleno século XXI, seus “currais
eleitorais” e se aproveitam da “inocência” de famílias pobres para comprar-lhes
o voto.
Portanto, votar no Tiririca
talvez represente uma grande investida do povo paulista para acabar com essa
hereditariedade de poder entre os grupos de políticos tradicionais e quem sabe,
ter um retorno positivo de seu voto. Eu particularmente considero a eleição do
Tiririca, um dos mais belos exemplos de cidadania, pois não acredito que ele tinha
tanto dinheiro para comprar tantos eleitores.
Para finalizar, gostaria de
deixar uma problemática para reflexão. Outro dia escutei muita gente criticando
a quantidade de bacharéis em Direito inscritos em um concurso público para o
cargo de gari. Fiquei pensando: seria tão bom se todos os nossos garis tivessem
Ensino Superior. Talvez, assim, não seriam submetidos a condições desumanas de
trabalho e nem teriam uma faixa na testa dizendo: “Eu sou gari porque não
estudei”. Desculpem os excessos, na verdade este texto é mais um desabafo
pessoal.
Por Paulino Barbosa
Texto apresentado ao Programa Missão Pedagógica da Câmara dos Deputados - Brasília/DF