domingo, 18 de setembro de 2011

REDES SOCIAS: o campo "minado" do jornalismo

REDES SOCIAIS: O campo “minado” do jornalismo

Paulino Rocha Barbosa[1]

“Dez Dias que Abalaram o Mundo” é considerado pela crítica um dos títulos mais interessantes da literatura mundial tornando-se um clássico do jornalismo. Lançado pelo americano John Reed, o livro relata com primor a Revolução Russa de 1917. Relançado recentemente, 94 anos depois, pela Peguin-Companhia das letras com nova tradução, tem-se certa descrença de que fará o mesmo sucesso, uma vez que, segundo Eblack (2011), temas como o coletivismo e socialismo, tão presentes na obra, parece não ter espaço na atualidade diante de uma sociedade calcada no individualismo e consumismo e fixada pelos iPads e outros lançamentos tecnológicos.
Iniciamos nossa discussão com a análise àcima no sentido de nos situarmos historicamente dentro do atual contexto pelo qual atravessa a sociedade. Vivemos uma era de profundas transformações, onde a tecnologia parece representar bem esse estágio social. Com o advento da internet novas possibilidades e modalidades de relacionamento foram surgindo e com isso, barreiras até então intransponíveis foram sendo quebradas. E as influências dessas transformações são sentidas em todos os setores sociais.
Alguns jornalistas têm criticado o papel da internet enquanto veículo de comunicação por dispor de uma infinidade de informações à disposição das pessoas o que acabaria complicando o entendimento dos receptores. Tal justificativa parte do pressuposto de que, com a internet, qualquer um pode postar e acessar qualquer texto, pois as informações estão ao alcance de qualquer um que saiba clicar um mouse.
Para Gomes (2011), isso é um grande equívoco que tem a ver com a falta de preparo de quem acessa a informação e não da internet, que apenas tornou tal acesso mais fácil. Para esse autor o que estraga a circulação de informações na internet é a falta de hábito de se checar as informações, daí a necessidade de um aparato crítico por parte do leitor.
Nesse sentido, o acesso aos conteúdos significa pluralidade e diversidade na recepção de informação pela internet e também em sua difusão pela rede mundial de computadores. Conforme afirma Evangelista (2010), no momento em que a mídia deixa de ser o quarto poder para se tornar um quarto no poder e quando a concentração dos meios de comunicação ameaça ou limita a liberdade de expressão, a internet se torna um “instrumento crucial para favorecer os direitos humanos e facilitar a participação da cidadania e, em consequência, para transformar-se em fundamento da construção e do fortalecimento da democracia” (LA RUE apud CAPDEVILA, 2011).
O advento da internet possibilitou o surgimento de uma nova ferramenta virtual de relacionamento ou mídias sociais, ou ainda, “mídia-socialização”, neologismo criado por Torres (2010) para explicar esse novo fenômeno da internet.
Para Meira (2011), nos últimos anos, o “social” parece ter se tornado uma espécie de segunda natureza dos negócios. E com a mídia não poderia ser diferente, só que essa mesma mídia que parece não ter rosto ou identidade e muito menos limite geográfico, é conduzida por pessoas em redes sociais, em uma voz humana. E as comunidades que se formam nessas redes querem discutir, propor, serem entendidas e atendidas. E muitos setores sociais já perceberam a importância dessa mídia e têm feito bastante uso não só para divulgar seus produtos, mas também idéias. É o caso das eleições presidenciáveis dos Estados Unidos e do Brasil, onde as vias digitais, principalmente as ferramentas de mídias sociais e redes sociais, foram usadas como canais de ampla divulgação de propaganda eleitoral.  
Portanto, não dá para negar a existência e a eficácia dessa nova mídia, da mesma forma que não dá para perder tempo tecendo críticas ou ficar preocupado em ser substituído no mercado de trabalho por essa nova ferramenta, como fazem alguns jornalistas. Na verdade essas mídias não vão e nem podem tomar o lugar dos profissionais da comunicação. Até mesmo porque, conforme expomos anteriormente, essas mídias são feitas por pessoas. Da mesma forma que haverá uma infinidade de usuários postando as mais diversas informações em seus blogs, twitter, facebook, entre outros; haverá também uma sociedade sedenta pela informação verificada, investigada e produzida, ou como diria Carl Bernstein, “a melhor versão possível da verdade”, e isso só o verdadeiro jornalista é capaz de fazer.
Nesse contexto, para Evangelista (2010), o papel do jornalista é fazer uso dessas ferramentas para revelar histórias não contadas, para investigar, para descobrir aquilo que à primeira vista ou à vista da maioria parece banal, mas que pode ser extraordinário. Através do jornalismo pode-se denunciar o que está errado e anunciar o que pode ser correto, sem deixar de lado a ética. E a ética, segundo esse autor, não pode ser tomada apenas como um conceito filosófico, mas como uma postura de vida, a tomada de uma posição que seja a mais justa possível.
Nesse sentido, tomar posição na visão de Evangelista (2010) é, entre outras coisas, revelar a realidade, quase sempre mascarada por números e estatísticas, às vezes equivocados, às vezes precisos, mas sempre frios e distantes. Essa realidade tem nome e sobrenome, tem história. E não é natural. Essa é a missão do jornalista, esse é o grande desafio que se coloca para esse profissional.

REFERÊNCIAS

CAPDEVILA, Gustavo. Governo e poderosos temem a internet. In: Observatório da Imprensa, n. 646, 14. Jun. 2011.

EBLACK, Luís. Jonh Reed: Não fui um homem neutro. In: Observatório da Imprensa, n. 625, 18. Jun. 2011.

EVANGELISTA, Fernando. Para que serve o jornalismo? In: Observatório da Imprensa, n. 579, 02. Mar. 2010.

GOMES, Roberto. Internet: a culpada? In: Observatório da Imprensa. N. 646, 14. Jun. 2011.

MEIRA, Silvio. Os limites das redes sociais... In: Observatório da Imprensa, n. 646, 14. Jun.2011.

TORRES, Cleyton Carlos. Imprensa deve fazer a lição de casa. In: Observatório da Imprensa, n. 590, 18. Mai. 2010.






[1] Acadêmico do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Amapá – AP. Email: paulinobarbosa@bol.com.br.

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