segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A SOCIEDADE ATUAL E O JORNALISMO: um breve olhar.




Por Paulino Rocha Barbosa[1]

Um dos grandes questionamentos que se faz na atualidade é quanto ao momento histórico pelo qual atravessa a sociedade. Será que estamos vivendo o período moderno ou estamos além, diante de uma possível pós-modernidade? A resposta para tal questionamento vem sendo buscada incessantemente por diversos estudiosos em diferentes áreas do conhecimento e o resultado nem sempre é convergente. Se o que se busca é uma ordem pré-estabelecida para explicar o momento presente o que se encontra talvez seja uma nova ordem ou simplesmente a falta dela. Diante dessa indefinição ou falta de conceituação do que se vive realmente na atualidade, uma coisa é bem certa, o mundo passa por uma crise de identidade sem precedentes que afeta quase ou completamente todas as esferas sociais.
Diante desse contexto estaria o ser humano perdendo a sua principal característica que os distingue de outros animais que é a racionalidade humana? Considerando que a racionalidade aqui especificada é a capacidade do homem de construir e de reconstruir o seu espaço, ou seja, um ser criativo e eminentemente cultural; e que, por isso mesmo, jamais deixará de exercer essa sua capacidade natural mesmo dentro de um contexto dito “irracional”. O que se percebe atualmente é uma nova visão de homem baseada na individualidade para atender a uma necessidade mercadológica que pretende transformá-lo em um potencial consumidor.  Nesse sentido, o espírito de coletividade para universalizar um determinado valor social parece desaparecer em razão de que não existe mais um único modelo a ser seguido e sim uma infinidade deles. E é essa busca incessante dos diversos atores/entidades dominantes em conquistar a individualidade de cada pessoa que vem provocando a fragmentação da cultura e da sociedade como um todo.
E como produção eminentemente humana, o campo das ciências também vem sendo afetado por essa crise de identidade, onde as diversas áreas do conhecimento buscam uma redefinição do seu próprio papel e objetos de estudo, onde os paradigmas, a toda hora, são colocados à prova.  O que se tinha como verdade irrefutável hoje pode ser vista apenas como uma possibilidade diante de um emaranhado de contradições que permeiam as diversas áreas do conhecimento. Tudo isso vem provocando certa descrença com o próprio conhecimento científico diante dos inúmeros conhecimentos produzidos por outras agências e veiculados numa rapidez assustadora e de fácil acesso a população.
E como área do conhecimento, a comunicação social não poderia estar ausente das influências devastadoras desse momento por que passa a sociedade. E falando especificamente da área jornalística e como não poderia ser diferente, também vive uma crise de identidade. Essa área que já sofreu tantas influencias, hoje parece sofrer todas ao mesmo tempo. O fato é que o jornalismo no Brasil tornou-se um veículo apaziguador dos diversos interesses, que na ânsia de agradar a todos, esquece de desempenhar o seu verdadeiro papel. Nesse sentido, é difícil pensar num jornalismo autônomo, mediador e formador de uma opinião coletiva e híbrida diante de uma série de situações porque passa essa profissão no país. Em primeiro lugar os maiores meios de comunicação do país estão atrelados aos grandes grupos empresariais que detém o controle de produção e de difusão dos bens culturais, tornando a área jornalística um espetáculo onde se reúnem consumo, publicidade, marketing,  serviço, visando atrair o capital para se obter lucro. Nesta visão o jornalismo parecer ficar em segundo plano, um mecanismo a serviço do capital.
Outro fato relevante e que tem dificultado a área do jornalismo enquanto ciência é a não exigência de formação específica para o exercício da profissão. O jornalista deveria ser um interlocutor previamente reconhecido como tendo o direito de divulgar a informação a sociedade. E esse reconhecimento deveria vir com uma formação mínima em nível de graduação, o que é dispensável no Brasil. Com isso, os jornalistas concorrem com uma série de “amadores” que transformam fatos em notícias sem a devida apuração, colocando em jogo a credibilidade do jornalismo no país e no mundo.  Como não bastasse isso, os meios de divulgação de informações atuais como a internet, transmitem essas informações em tempo real, transformando a notícia numa verdade incerta e instantânea.
Nesse plano de discussão qual seria o papel do jornalismo e será que ainda existe espaço para o verdadeiro jornalista na atualidade? Esse é o grande desafio que se coloca para a profissão. Espaço para bons jornalistas sempre existiu e sempre existirá, até mesmo porque essa é uma profissão indispensável para a (re)construção de uma sociedade calcada na coletividade. O que precisa ser feito pelo jornalista é buscar a sua formação inicial e continuada a fim de tornar-se um sujeito crítico e reflexivo diante das inúmeras contradições e problemáticas, mas também de opções a serem seguidas em busca de um jornalismo autônomo e verdadeiramente preocupado com a credibilidade e neutralidade da informação, ou seja, um profissional verdadeiramente comprometido com as questões sociais.
  


[1]  Acadêmico do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Amapá – UNIFAP. email: paulinobarbosa@bol.com.br. Macapá-AP

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